segunda-feira, 27 de setembro de 2010

1ª viagem: Lisboa e Cascais

Se me perguntassem do que eu mais tenho sentido falta, eu falaria da minha casa, do meu quarto, do colinho de mãe. Da cachorrinha a dormir aos meus pés, do chegar em casa e ser recebida por lambidas e beijos, do ficar acordada até tarde e ter alguém pra me mandar dormir, do querer dormir até tarde e ter alguém me mandando acordar.

A escolha não poderia ter sido melhor então para esse fim de semana: viajamos pra Cascais, uma vila da Grande Lisboa. Um lugar bastante aconchegante, com praias que, embora ninguém tome banho nelas - dizem que a água é tão gelada que chega a doer -, propiciam vistas maravilhosas.  Lá, ficamos na casa de parentes distantes de Ingrid que nem ela mesmo conhecia. Mas o carinho com o qual fomos tratadas e os cuidados de uma mãe fizeram com nossas baterias fossem recarregadas e até eu me sentisse parte da família. 

Saímos de Braga na sexta-feira, no início da tarde. Pegamos o auto-carro para Lisboa e, de lá, pegamos pela primeira vez um metro (aqui se fala métro, e não metrô) e depois um comboio (trem) para chegarmos em Cascais. Aqui, tudo já é extremamente automatizado: compram-se os bilhetes para o metro e para o comboio em máquinas, que ficam espalhadas pela estação. Primeiro se compra um cartão, o Cartão Verde, por 0,50 euros, e depois é só ficar recarregando, de acordo com a viagem que se deseja realizar. As primeiras vezes são sempre engraçadas, não é? Para comprarmos o cartão, demoramos tanto tentando desvendar os mistérios da máquina que, ao sairmos, fiquei com medo de olhar pra trás e me deparar com a fila enorme que, com certeza, havíamos causado. 

Por Cascais ser uma vila e, portanto, não tão grande assim, foi-nos sugerido que utilizássemos o sábado para conhecer Lisboa, já que estávamos tão pertinho. Pegamos o mapa, descobrimos os pontos principais, arrumamos a mochila, calçamos os tênis e - calma, Lisboa. Primeiro temos que nos programar direitinho. Ficou decidido que iríamos nos concentrar no centro de Lisboa, onde estão as principais atrações turistico-históricas. Tentaríamos visitar o Arco da Rua Augusta, o Castelo de São Jorge, o Rossio,  comer os famosos pasteizinhos de Belém, fazer uma pausa no Mosteiro dos Jerónimos, dar uma olhadinha na Torre de Belém e no Monumento ao Descobrimento e voltarmos pra casa ainda cedo pra que pudéssemos conhecer o Casino Estoril em Lisboa, o maior cassino da Europa. Não havia mais tempo pra pensar então. O jeito era apressar o passo.

Chegamos a Lisboa já era quase meio dia. O primeiro ponto a ser visitado, o Arco da Rua Augusta, já reservava algumas surpresas. No caminho, avistamos o Ministério Naval de Portugal, onde havia algumas inscrições indicando uma homenagem aos descobrimentos portugueses. Tentamos entrar, não conseguimos. Não valia a pena tentar explicar que nós não estávamos tramando nenhum atentado terrorista pra nos vingarmos da colonização portuguesa. Não conseguimos entrar no Ministério, só pra tirarmos umas fotos - que mal há nisso? Todo turista deveria poder entrar em todos os Ministérios. Claro que sim. Tentativa frustrada, seguimos em frente. Em frente ao Arco, há a Praça do Comércio, com uma estátua de D. José. Depois graças ao tio Google, descobri que essa praça ja foi, há muito tempo, areia e lodo. Graças aos Descobrimentos que ela virou palco do comércio das especiarias e sua construção foi financiada por esse mesmo comércio, daí o nome da praça. Embaixo do Arco, tava havendo uma apresentação de capoeira. 

De lá, pegamos o eletro rumo ao Castelo de São Jorge. Para nossa sorte, paramos num ponto anterior ao Castelo, onde encontramos um jardim, cheio de flores, o Jardim Júlio Castilho. Fizemos uma pausa para um lanchinho, ao som de dois senhores que estavam tocando, sentados em um banquinho ali por perto.



Chegando ao São Jorge, mais uma vez fomos recebidas pela música. É que um outro senhor também estava por ali, tocando um instrumento, fazendo nossos ouvidos sorrirem. "Lisboa tá me parecendo uma cidade bastante sonora", Ingrid disse. Eu concordo. O castelo, imenso, faz com que a gente comece a imaginar o tanto de coisa que já aconteceu por ali. O tanto de gente que por ali já passou, quantas decisões já não foram tomadas dentro daquelas paredes. É só olhar para os canhoes... Imagine as inúmeras conversas, as incontáveis batalhas.  Se aquelas paredes tivessem ouvidos... e boca. Eu gostaria de escutar todos os segredos. Mas não havia tempo para devaneios. 

Saindo do Castelo, fomos para o Rossio. Vimos o Elevador de Santa Júlia, o Teatro Nacional D. Maria II,   uma apresentação de índios peruanos que tava acontecendo logo ali, na praça em frente ao teatro. A música tinha mesmo resolvido acompanhar Lisboa naquele dia. 

Pegamos o metro e fomos a Belém,  comer seus famosos pasteizinhos. Logo que chegamos, a fila em frente ao local onde eles são vendidos tava imensa. Eles são mesmo um sucesso. Então resolvemos ir primeiro visitar o Mosteiro dos Jerónimos, um local deslumbrante. Por dentro e por fora. Chegamos em cima da hora,  só podiam entrar turistas até as 18 horas, porque às 18:30 as portas se fecham. Entramos faltando alguns poucos minutos para as 18 horas. Logo à entrada, de um lado fica o túmulo de Vasco da Gama, do outro, o de Camões. Uma nobre recepção. Só depois soube que ali, naquele mosteiro, também tá enterrado o ilustre Fernando Pessoa. O interessante é que quando estávamos por lá, tinha uma guia turística falando pra um grupo de pessoas e ela disse que tinham sido encontrados os restos dos corpos, mas não se tinha certeza se eles eram mesmo o de Camões, mesmo assim foram levados para o Mosteiro e ali estava. Tudo bem, valeu a intenção.



Os pastéis, a quem interesse, valem mesmo a pena a espera na fila. E são muito mais gostosos que os de nata, aqui de Braga. Mil vezes melhores que os ditos pastéis de Belém de João Pessoa. 

Depois, fomos à Torre de Belém, onde meu marido vai me fazer o pedido de casamento. Fica distante de todos os outros pontos, uns 20 minutos de caminhada aproximadamente. Achamos que era bobagem irmos até lá, mas quando chegamos, logo percebemos: é um local lindo, típico das telas de cinema. E por perto há alguns restaurantes que lembram "A Casa do Lago". 

Roteiro concluído, pegamos o metro de volta à Cascais. Já passava das oito e tínhamos que chegar em casa à tempo de conhecermos o Cassino. Diga-se de passagem, foi o único passeio desse fim de semana que não valeu à pena. O cassino é lindo por fora, é verdade. Cheio de glamour. Mas história de gente que perdeu fortunas por ali é o que não falta. E às máquinas, muitas mulheres de meia idade, com aparência de quem acabou de sair do trabalho e foi ali buscar um pouco de diversão. 

Tivemos a chance de presenciar uma pessoa jogando e ganhando. Foi a Maria do Carmo, amiga da senhora que nos hospedou, que ganhou 20 euros em uma das máquinas. Ali por perto, havia uma senhora com o olhar triste, sentada num banco, olhando um senhor jogar em outra máquina. Não sei se o olhar era por ele ser seu marido, por ele não ser. Passando pouco tempo, fomos pra casa. O dia havia sido realmente longo.

No domingo, fomos visitar as belas praias de Cascais. Passamos pelo Farol, pelo centro da cidade, por um parque, pela Boca do Inferno. Inferno que nada. Cascais é um paraíso.

Já era tarde, e tínhamos que pegar o auto carro de volta para Braga. Afinal, são cinco horas de viagem de Lisboa para cá. Não deu para conhecer minunciosamente Cascais, mas é o tipo de lugar que deixa na gente aquela vontade boa de voltar, vontade de viver. Não sei se pelo porto seguro que ali a gente encontrou, se pelas vistas maravilhosas, se pela experiência boa da primeira viagem. 

E a próxima já tá marcada. Madrid e Valência, do dia 07 ao dia 12 de outubro. E a outra, também. Roma, do dia 31 de outubro à 3 de novembro. Mas aí já é outra história...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sobre as diferenças

Bico, aqui em Portugal, é uma referência ao sexo oral. Por isso que não cai bem sair por aí dizer que você quer fazer um bico.

E a diferença entre os vocábulos é só uma das inúmeras que podem ser encontradas entre o Brasil e Portugal. Ao caminhar pelo meio da rua, por exemplo, pude perceber que só em olhar para a faixa de pedestre os motoristas já estão parando os seus carros, dando espaço para que atravessássemos as ruas.

Assim tem sido a maioria dos nossos percursos:  a pé. Na verdade, só cheguei a pegar um ônibus durante esses cinco dias (a propósito, o auto carro custa 1,35Î), todas as outras vezes fomos a pé. Daqui pra Universidade do Minho dá aproximadamente meia hora. Ou seja, por baixo, uma hora de caminhada todo dia. Eu devia ter levado a sério as caminhadas na calçadinha. E alguém deveria ter me avisado para fazer um intensivo de três meses de academia pelo menos antes de vim pra cá.

Ontem o dia foi reservado para a recepção dos intercambistas. Houve palestras pela manhã, nas quais se falou um pouco sobre o que a universidade oferece, os eventos que irão ocorrer, esse tipo de coisa. São inúmeras as modalidades de esporte oferecidas por aqui. De squash (soube até que tem uma sala de squash aqui na Residência, mas falta tanta coragem...) a artes maciais. 

Também nessas palestras, soube que haverão oficinas de Fotografia Digital e de Jornalismo, oferecidas a todos os estudantes. Há inúmeras festas durante o ano inteiro, sendo as mais famosas a 'Gata na Praia' (o apelido da Uminho é a gata) e o 'Enterro da Gata'. Ontem mesmo houve uma festa, o "Cheira a Leite", de recepção aos calouros. O engraçado é que, pelo que eu soube, as músicas que tocam nessas festas são a maioria brasileiras e algumas internacionais. Pouquíssimas músicas são portuguesas.

À tarde, depois de um almoço oferecido aos intercambistas, houve uma espécie de gincana, bem divertida. Fomos divididos em grupos de 10 e a cada grupo foi entregue um mapa da universidade onde estavam marcados 20 pontos que devíamos achar e responder à questão que ali se encontrava. Uma caça ao tesouro! Os últimos pontos eram em cima de um morro, gigante! E cheio de espinhos. Daí a necessidade de ter entrado na academia. Mas em nenhum dos e-mails que eu recebi tocaram nesse assunto... O máximo que haviam dito era pra que fossemos com roupas confortáveis, oh!

Mas não se pode reclamar nenhuma vírgula do Gabinete de Relações Internacionais da Uminho. Eles realmente nos dão toda a assessoria. Fico pensando em como é a recepção dos alunos intercambistas na UFPB...

Em uma banquinha de revistas que existe dentro da Universidade, encontrei um livro de Chico Buarque por 1Î. Procurei no Submarino, encontrei por 42 reais no Brasil.

Não é de se estranhar que, aqui, os motoristas parem na faixa de pedestre...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A chegada

Quem vai fazer a mesma viagem, uma dica: venham pela TAP, não pela Ibéria. Nao tenho certeza em relação aos preços - minha passagem custou R$1900,00 - mas o fato é que, aqueles que vieram pela Iberia e fizeram conexão em Madrid, não passaram pelo aeroporto de Lisboa e, por isso, têm que, num prazo de três dias (caso contrário, paga-se uma multa) ir até ao SEF para ter o passaporte carimbado. Portanto, prefiram os vôos que têm conexão em Lisboa.
Não consegui dormir durante o vôo, óbvio. Minha ansiedade era comparavel a de uma menininha de cinco anos de idade, indo pro primeiro dia de aula. Quando estávamos chegando próximo ao aeroporto, anunciaram que a temperatura em Lisboa era de 19 graus. Achei que ia congelar, tão logo descesse do avião - minha única experiência com temperaturas abaixo de 20 graus foi em Brasília e lá eu congelei, rapidinho, rapidinho - mas me surpreendi. Não tava tão frio assim - pelo contrário, cheguei até morrer de calor, na fila de espera pra carimbar o passaporte.
Uma fila enorme, diga-se de passagem. Dava voltas e mais voltas e mais voltas. E não sei se pela mudança repentina de temperatura, ou se por algum outro motivo, passei o percusso inteiro da fila espirrando sem parar. Já tava achando que nao ia parar nem tao cedo... mas foi só sair dali, tomar um Coristina D e tudo foi resolvido. Não dei mais nenhum espirro, até agora (pode ficar tranquila, mãe!).
Não se assustem - como eu - com o preço das coisas no aeroporto. Lá, uma garrafinha d'agua custou 1,35 euro. No Pingo Doce, um supermercado pertinho da Residência onde eu tou alojada - um garrafão com 5 litros d'agua custa 0,29 centimos.
Depois de termos os passaportes carimbados (o rapaz nao me perguntou nada, só pediu o passaporte, carimbou, e devolveu - a outras pessoas, no entanto, perguntaram o que elas vieram fazer aqui e pediram a carta de aceitação da Universidade), fomos em busca de algum lugar pra comer e de como faríamos para chegar a nossos respectivos destinos.
Pegamos um táxi do aeroporto à estação de auto-carro. Devido a quantidade de malas, so couberam duas pessoas por taxi. É pertinho : 10 euros, por conta das bagagens. Lá, na Estação, pegamos o autocarro para Braga, que custou 19 euros. A viagem é bastante longa e cansativa, mas a parte boa é que já dá para dar uma olhadinha nas outras cidades - passamos por Fátima, Porto e algumas outras. Da estação de auto-carro de Braga, para residência, outro táxi: 8 euros.
Uma outra dica: evitem chamar os taxistas de 'moço'. Eu tenho mania de fazer isso e já levei alguns foras por aqui. No primeiro táxi que fomos pegar, um taxista disse que não seria possível duas pessoas em um só taxi e lá vou eu... "Mas moço... a gente podia colocar uma mala no banco.." E antes mesmo de eu completar a frase, lá veio, com o maior tom de ressentimento: "Ora, moço? Faça-me o favor!" Só depois explicaram-nos o motivo. Moço, aqui, quando utilizado como vocativo, significa alguém inexperiente, principiante. Não são todos os que se sentem incomodados mas, por via das dúvidas, é melhor evitar.
Outra coisa que eu já descobri que se deve evitar falar por aqui: a palavra 'bico'. Aliás, NUNCA digam 'eu quero fazer um bico', 'eu tou procurando um bico'....
Mas, essa, depois eu conto.