quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Voltei!

Tá. Eu sei que eu tou errada.
Eu sei, de verdade. E não vou mais continuar errada. De verdade.

E hoje eu não vou continuar com a ordem cronológica dos posts. Nem vou fazer um relato de viagem alguma. Dessa vez vai ser diferente. Esse ano vai ser diferente.
2011 começou diferente.
Do mesmo jeito que essas últimas semanas foram diferentes. E talvez tenha sido por isso que eu andei parando de postar.
Dessa vez o post vai ser mais sobre sentimentos que sobre impressões.

Explico.
2011 não vai ser diferente porque eu tou diferente. Costumam dizer que um intercâmbio muda a pessoa, faz a gente crescer. Talvez sim, talvez não. Pra falar por experiência própria, eu prefiro ficar calada. Se eu tiver mudado, de fato, o tempo que vai dizer. E se eu tiver crescido, também.
E eu sei que quem ficou lá, do lado de lá do oceano, também cresceu. Sei que a vida não parou do lado de lá. E que quem tá lá teve inúmeras experiências, como eu, nesse período de três meses que já passou. Só que eu escolhi ter as experiências que um intercâmbio proporciona. E disso eu não me arrependo. E faria de novo. E de novo. E de novo. E mais uma vez. Porque, sinceramente, é algo único.

Não se resume a estar do outro lado do mundo. Nem se resume a estar na Europa. Nem se resume as viagens. Tampouco as pessoas que você conhece.
Na verdade, eu diria que se resume mais ao dia-a-dia. A sentir. A ter chegado aqui com a sensação de que seis meses seriam uma eternidade, e a olhar agora e ver que três meses passaram rapidinho. A ter passado pelo riozinho do caminho pra universidade hoje e ter lembrado da primeira vez que eu passei por ali, e ter saudade disso, antes mesmo disso ter acabado. A sensação de que é um sonho que tá acontecendo. E jájá o sonho acaba. Mas besteira. Era um sonho também João Pessoa. E meu coração tá lá, de qualquer forma. Tá batendo lá, porque lá é minha casa. E se me pedissem pra escolher, Brasil ou Portugal, eu escolheria o Brasil, sem dó nem piedade. O português é mais educado, mas o brasileiro é mais coração. Fico com o coração.

Só que meu coração, aqui, também bateu. E bateu forte. Bateu de saudade, primeiro. Depois bateu de surpresa, de ser surpreendido. Bateu de saudade de novo. Saudade de casa, da mãe, do avô, da irmã, da avó, do pai. Na saída do metrô, bateu de saudade do pai, que ainda nem tinha ido embora. Ele doeu, baixinho. Só que aqui a gente sabe, a gente sabe que não dá pra deixar ele muito no controle. Por mais que você teja triste, não dá pra se deixar afogar. Se deixar, já era. Pelo menos era essa a sensação que eu tinha, que eu tenho. Daí que a gente aprende a controlar o que a gente sente. Se sentir saudade, se segura. Se ficar triste, se alegra. Se se decepcionar, engole o choro, lava o rosto, e estuda, que passa. É assim. Chorei, parei, lavei o rosto, voltei a estudar. Tinha prova no outro dia. E passou. O tempo passou. A gente vai seguindo em frente, até não poder mais. A gente chega no limite, que não sabia que existia.

Um dia, não dá pra segurar. É quando você começa a chorar, feito um bebê chorão, sem conseguir parar, de jeito nenhum. A gente se segurou, tentou fazer a nossa parte. Tentou ser gente grande. A gente tentou. E tentou não se abalar. Tentou ser forte. Lutou, até o fim. Mas aí chega o limite. E quando a gente chega nesse limite, aparece um anjinho na nossa frente. Assim, assim. Papai do céu nos envia um anjo. Que te escuta chorar, das quatro às sete da manhã. E depois ele te mostra mais anjinhos. E te mostra quem te faz confidências. E você, depois de ter tentado ser forte, como nunca foi, depois de ter calado o coração, como nunca conseguiu, depois de ter descoberto um limite, que nunca sonhara que existiu, você se descobre em corações. Descobre um fiapo de sorriso num lugar qualquer. Descobre um cheirinho de amor no ar. De amizade, de carinho. Do outro lado do oceano, do lado de cá.

E agora, a saudade que tava lá, do lado de lá, hoje, tá aqui também. Saudade do que ainda nem acabou, saudade até do que ainda vai acontecer. Saudade de conhecer não só os tantos lugares novos, que ainda vêm pela frente (embaixo, os próximos roteiros), mas saudade disso tudo novo. Eu sei, eu sei que quem ficou lá hoje já tá com estágio. Sei que eu perdi a turma do francês, que talvez tenha atrasado um ano da universidade. Sei que vou morrer de inveja de quem já tá trabalhando. Sei que eu podia tá lá, entrando no mercado. Mas sei também que eu não trocaria por nada, de forma alguma, essa experiência.

De testar todos os limites, de sentir que eu posso ser mais forte do que eu julgava ser. De sentir tudo mais intensamente, mas ainda assim saber que se deve dar um freio, em cada sentimento que se tem. De construir relações que têm data marcada pra ter fim. De não ter aprendido, afinal, a cozinhar bem, a desvendar os mapas, a entender a bolsa de valores.

Mas de sentir, com cada partezinha do meu corpo. A de não deixar ninguém roubar a fé da gente nas pessoas. Que as pessoas valem a pena sim, que existe, sim, aqui, em Portugal, no Brasil, na China, na Espanha e na Itália, gente com muito amor pra dar. Pra dar e receber. Gente que vale à pena a gente conhecer. Lugares que valem à pena um suspiro.

E ser ERASMUS, definitivamente, vale, e muito, à pena.

Porque "quem disse que a infância é a melhor fase da vida é porque nunca foi intercambista"!
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Próximos roteiros:

ROTEIRO 1:
Porto - Londres, dia 19 de janeiro, 06:25 - 08:45
Londres - Dublin, dia 21 de janeiro, 21:55 - 23:20
Dublin - Edimburgo, dia 24 de janeiro, 6:25 - 7:35
Edimburgo - Bruxelas, dia 26 de janeiro, 18:00 - 20:50
Bruxelas - Amsterdã, dia 27 de janeiro, 20:30 - 23:30
Amsterdã - Bruxelas, dia 29 de janeiro, 11:00 - 14:30
Bruxela  - Porto, dia 29 de janeiro


ROTEIRO 2:
Porto - Barcelona dia 31 de janeiro, 6:25 - 9:20
Barcelona - Veneza, dia 3 de fevereiro, 9:40 - 11:15,
Veneza - Paris, dia 5 de fevereiro, 13:15 - 15:10

4 comentários:

  1. Rafa parabéns pelo post!

    Posso falar com propriedade de todas essas coisas que você falou ai... já fazem 9 meses que estou do outro lado do oceano e posso dizer que descobri que sou bem mais forte do que imaginava. Saudades agente sente, mas esse é o preço que escolhemos pagar para viver momentos inesquecíveis!

    Na verdade eu já sinto como se Dublin fosse minha casa, já sinto saudade daqui quando faço uma viagem, é estranho mas é legal! =D

    Aproveita cada dia, cada momento, pois tudo isso passa muito rápido, depois vamos voltar pra nossa casa (Brasil) e vamos ficar lembrando como era bom estar desse outro lado do oceano...

    Bjussss

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  2. Rafa quando li parece que passou um filme na minha cabeça, desde o momento que nós conhecemos naquela reunião com Félix, do sofrimento com a documentação do visto e até que fim a viagem o dia da partida do Brasil e a tão sonhada chegada em Lisboa. E como é bom olhar para atrás e vê que todo aquele sacrifício valeu a pena, e agora começar a senti saudade porque o dia do da volta esta chegando. Posso dizer que uma das melhores fases da vida vai ficar aqui.
    E agora o importante é aproveitar os últimos momentos e ser feliz.
    Bjão...
    Parabéns pelo TEXTO..

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  3. Não importa se é sobre sentimentos ou impressões, bom é ter vc escrevendo...
    Quero ver vc no "Doce Momento"
    bjs
    bel

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