sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Santiago (primeira parte)


A mochila pronta, uma e meia da madrugada. O despertador programado pra tocar às 5, eu querendo saber se faltava alguma coisa, se de novo tava esquecendo algo. Roupa, escova de dente, casaco. Ok. Hora de dormir. Meia hora depois, o despertador toca. Hora de se levantar, comer alguma coisa, pé na estrada. E uma certeza: por mais que eu tente, não tem jeito, eu tenho que me atrasar. Faltava colocar a água na garrafa, faltava pegar o óculos de sol, ajeitar o cabelo. O telefone toca uma, duas vezes. Eu tenho que descer. Rápido. A gente vai se atrasar. Fui.

No caminho pra universidade (essa excursão foi organizada pela universidade pros Erasmus!) (e a universidade fica a meia hr da residência!) (e era seeeeeeis horas da manhã! mentira - 6:30) de repente e não muito mais do que muito de repente, todos os postes se apagaram. Breu total. Eu, claro, me agarrei em Ingrid e não tinha quem fizesse eu soltar.  Mas chegamos vivas na universidade. vivas e em cima da hora. Mal entramos no ônibus, não se passaram nem cinco minutos, foi dada a largada. Rumo a Santiago.

Primeira parada: Valença. Assim, com cedilha e sem o i. Diferente de Valência, na Espanha. Tem uma Valença até na Bahia, ó, no Brasil. Nome doce. A história de ValenÇA (eu não tou errando a digitação, Camilinha, que nem devo ter errado quando escrevi hoSTel) remonta, pelo menos, a origem romana. Há sinais rupestres de tempos muito mais longínquos - ao século VI a.C, quando ocupada pelas mais variadas descendências: indoeuropéias, mediterrâneas, africanas. Depois dos romanos, vieram as invasões árabes... e numa dessas invasões, um parênteses: uma delas, a que teve as piores consequências pra região do Minho (onde eu me encontro), ocorreu no ano de 997 pelo Amansor Emir Bem Abi Amir, no seu caminho pra Santiago de Compostela. Na verdade, o caminho pra Santiago teve uma importância enorme pra freguesia(=cidade). As peregrinações pra SAntiago vindas de Braga, Porto, Barcelos ou Ponte de Lima tinham como passagem obrigatória o cais de Valença. Daí seu povoamento mais intenso, a altura da Idade Média. Depois vieram também os ataques espanhóis e um rei, o Sancho I, foi quem construiu os primeiros muros na cidade, pra sua defesa desses possíveis ataques. Foram essas as muralhas que visitamos. A vista lá de cima é linda, dá mesmo a impressão de estarmos longe de tudo, longe do mundo. Há mil séculos. 
 
De lá, seguimos pra Pontevedra. A origem dessa cidade cabe, novamente, aos romanos. Mas há uma lenda que afirma ter sido Teucro, um dos heróis da Guerra de Tróia (mãe, lembrei de vc!), o responsável pela sua fundação. Apesar de considerado herói, quando voltou a sua casa seu pai lhe deserdou por não ter vingado a morte de seu irmão. Viajando, em busca de um novo lar, acabou por achar as terras de Pontevedra, onde se estabeleceu e colocou-lhe o nome de Helenes, em homenagem a sua esposa, Helena. Não sei se é verdade, mas vai.. essa história é bem mais bonitinha que a dos romanos, com guerras, blablabla. Melhor acreditar nela.
Lá, conhecemos o básico: praças, igrejas, o comércio. Almoçamos (Burger King), nos enfiamos pelas ruazinhas estreitas, fizemos novos amiguinhos (olha a foto! hahahah), hora de voltar.
 
 
 
Rumo à SantIago. Até agora, ainda tou tentando descobrir, de fato, quanto tempo é daqui pra lá. Como fomos parando ao longo do caminho, a viagem não ficou cansativa. Somos peregrinos traiçoeiros. Além disso, tinha os brasileiros, no fundo do ônibus, alegrando a viagem. Não tem ninguém que se compare aos brasileiros mesmo, isso é um fato. Quando eles deram uma paradinha no auê, que o ônibus ficou mais silencioso... logo, logo o guia perguntou o que tinha acontecido. "Cadê os brasileiros, gente?!" Se bem que eu realmente acredito que depois ele se arrependeu amargamente de ter perguntado isso. Até na volta, com todo mundo super hiper mega cansado, eles não conseguiam se calar. Todas aquelas musiquinhas maravilhosas foram cantadas. Mamonas Assassinas, É o Tchan, blablabla, blablabla.

Chegamos. Passamos direto pro hostel. Quinze minutinhos pra todo mundo ficar pronto e se encontrar na entrada, pra podermos ir à Catedral. Se vira nos 30. Nos viramos. Chegamos a Catedral. Linda. Linda de morrer. Muito linda. Enorme. Assistimos a uma missa. Sempre que eu entro numa igreja, tenho uma tendenciazinha de leve a me emocionar. E foi o bispo que celebrou a missa. E a missa foi linda. Linda. Eu nunca fui fã de missas. Mas essa foi linda. Mesmo em espanhol. Foi linda. A metade que eu escutei. Porque na outra metade eu tava conversando com papai do céu. Agradecer faz parte.
 
(continua...)

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